sábado, outubro 23, 2010

Atração Instantânea


Como toda quinta feira, sai de casa com meu livro e caneta em mãos, para ir até a praça, no horário que ela está sempre vazia, de noite. Não sei por qual motivo, talvez as pessoas prefiram o sol ao invés da lua, do calor ao invés da frieza prateada da cor das estrelas, não sei, eu sempre preferi a noite. Talvez por sempre ter sido fria e solitária.
Estava caminhando pelo trajeto curto, do meu apartamento até a praça, e percebi que aquela noite estava estranhamente vazia, apesar de ainda sentir a noite, ouvir o silêncio estranho que ela nos oferece. Finalmente parei de pensar nisso, estiquei minha manta que eu sempre levo comigo no gramado fofo e verde da praça, para poder deitar e olhar as estrelas. Toda quinta faço isso, porque nesse lugar sempre me vem algum tipo de inspiração pra escrever em meu livro, fazer alguma anotação, não sei, parece que aqui é meu ponto de poder, de criatividade, de luz.
Sentei ali, fechei os olhos e fiquei sentindo o ar gelado da noite rodopiar ao meu redor, fiquei sentindo meus cabelos voarem calmamente pelos ombros, tentei pensar nas coisas que sempre me traziam algum tipo de lembrança, de inspiração, mas não veio nada, tava começando a ficar frustrada. Então deitei, abri os olhos e fiquei olhando as estrelas, que pra mim eram mais belas que qualquer luz solar, para as estrelas podemos olhar o tempo que for e os nossos olhos não irão queimar, podemos ver suas formas e diferente desenhos, o sol não me agrada nem um pouco, sim, não gosto do dia, por mim viveria apenas na noite, sinto que a noite é o meu lar...
Comecei a ter uma sensação estranha, de estar sendo observada, tinha certeza de que tinha alguém me observando. Então olhei para o lado que estava me trazendo a sensação mais estranha que já tinha sentido na vida, e vi aqueles olhos sombrios me observando, lentamente comecei a sentar, o primeiro impulso que eu tive foi de gritar, mas algo dentro de mim dizia que eu não devia fazer isso. Ele continuou ali, parado, apenas me olhando, os poucos pontos de luz que vinham dos postes distantes, formavam uma sombra sobre ele que mostrava a sua beleza estonteante e de alguma forma seu lado escuro. Ele era alto, de cabelos negros, que emoldurava um rosto pálido, mas com uma beleza indescritível, olhos azuis de uma profundidade assustadora que instantaneamente derreteu toda a frieza que me perseguia a vida inteira, maçãs do rosto altas, nariz reto, lábios perfeitamente desenhados e cheios, maxilar marcante. Ele era tão incrivelmente belo, que se eu não estivesse sentada olhando-o como uma idiota, teria dado passos impensados para o estranho que ali me observava. Será que ele estaria ali há muito tempo? Será que ele SEMPRE ia ali? Não. Aqui sempre estava vazio, em silêncio absoluto, eu estava muito confusa. Logo me toquei que a minha tagarelice mental tinha durado poucos segundos, e que aquele ser perfeitamente belo que me observava, estava se afastando dali lentamente, sem tirar os olhos dos meus, e assim ele se afastou até eu não poder mais vê-lo na escuridão da noite...
Fiquei ali, de boca aberta, pensando quem poderia ser aquele homem, que em segundos conseguiu derreter todo o gelo que existia dentro de mim, apenas com o olhar, sem me pronunciar uma palavra sequer. Só agora tinha me dado conta que devia ter perguntado quem era ele, perguntado o seu nome, mas em vez disso fiquei olhando pra ele como uma idiota. Quando já estava pensando claramente de novo, juntei minha manta, meu livro e fui andando calmamente pela calçada para casa. A única coisa que eu pensava era: Tomara que ele apareça ali de novo na próxima quinta... Apesar de qualquer lado escuro que o assombrava eu o queria conhecer e eu sentia que ia conhecer mais do que eu pretendia.
                                                                                   
                                                            Ana Paula M. Silva.

sexta-feira, outubro 22, 2010

Diferenças


Às vezes me sinto uma aberração no meio de tanto modismo, às vezes penso que estou no lugar errado, com as pessoas erradas. Porque eu tenho uma personalidade totalmente diferente de todos que me cercam, gosto de filmes diferentes, músicas diferentes, livros diferentes (se é que as pessoas que estão comigo gostam de ler), gosto de lugares diferentes, de inovar! E as pessoas que estão comigo não tem o mínimo dos pensamentos e objetivos que eu tenho. Como posso conviver assim? Queria tanto ir para algum lugar longe, onde as pessoas não sabem quem eu sou, onde eu posso ser quem eu quero ser, sem medo de julgamentos e pensamentos errados. Como eu queria sentir a liberdade completamente e ficar longe dessa esfera onde todos querem seguir padrão de beleza igual, gosto musical igual, tudo igual. Seguem essa linha de modinhas que nem sabem o que querem, o que fazem, o que ouvem e o que lêem, onde estão os princípios de todos? Não sei, só sei que eu gostaria de fugir daqui e ser quem eu quero ser.
                                                                                        
                                                         Ana Paula M. Silva.

quarta-feira, outubro 20, 2010

O GRITO

Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe.
Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo para outro.
Ele sabe.
Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio.
Sabemos, sim.
Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar esse grito com conversas tolas, elucubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe em nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade se impõe, fala mais alto que nós, ela grita.
Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar esse amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno. Podemos dar todas as provas ao mundo de que não amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro, quem é que está no controle.
A verdade grita. Provoca febre, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona e finge esquecer. Mas há uma verdade única: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.
Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Fazemos essas escolhas por serem as mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro, aquelas vozes que dizem: vá por este caminho, se preferir, mas você nasceu para o caminho oposto. Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado, e é feliz, puxa, como é feliz.
E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!
Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe.
Eu não sei por que sou assim.
Sabe.
                                                                   Martha Medeiros.

sexta-feira, outubro 15, 2010

NASCER DO SOL E PÔR DO SOL


Eu estou com uma saudade tremenda do amanhecer e do entardecer do verão, pelo simples e espetacular nascer e pôr do sol que reina na ilha de Florianópolis nesses três meses.
Lembro-me de muitos finais de semana de verão que eu não dormia a noite inteira simplesmente pra quando estivesse perto do amanhecer eu pudesse sair de casa, sentar na areia da praia e esperar a maravilha da natureza começar a se mover timidamente por entre as nuvens. Lembro claramente como se estivesse vendo agora, os tons das cores movendo-se preguiçosamente pelo céu, refletindo na água. Primeiro vêm aquele tom de azul  marinho que lentamente, vai se tornando um roxo, depois se torna rosa, depois um tom de laranja brilhante. Não tem algo mais espetacular que isso. O pôr do sol também me agrada, pelos momentos, de ficar na praia com os amigos, conversar, brincar na água, fazer qualquer coisa na areia que renda muitas risadas e quando nos tocamos vemos o sol se pondo silenciosamente nos mostrando que chegou a hora de partir, mas que isso não significa que acabou a diversão, porque dali a algumas horas ele irá trazer sua beleza, seu brilho e calor, para nos aconchegar num ambiente maravilhosamente familiar que é o verão em Floripa.
                                                                                             
                                                                 Ana Paula M. Silva.



Nascer do sol                     Por do sol
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